quinta-feira, 12 de setembro de 2013

O Eixo do Mal está vivo e passa bem



Pela simples leitura da grande mídia, quem poderia saber qualquer dessas coisas?

"Repórteres estrangeiros – de preferência americanos – eram muito mais valiosos para nós do que qualquer vitória militar. Muito mais valiosos do que recrutas para nossa força de guerrilha eram os recrutas da mídia americana para exportar nossa propaganda." 
(Che Guevara, 1959)
"De duas uma: ou os repórteres que estão em Havana são insensíveis à dor da oposição ou são claramente cúmplices do governo."(Jorge Luis García Pérez, também conhecido como Antunez, vítima de tortura do governo Cubano, para o Miami Herald em 7/8/2013)
Note o tempo que se passou entre as citações acima. Poucos esforços de recrutamento de propaganda e poucas campanhas de relações públicas foram tão espetacularmente bem sucedidas ou tão duradouras quanto as movidas por Fidel Castro e Che Guevara.
Por exemplo, eis o que se passou nas últimas semanas: o regime cubano foi pego em flagrante enviando um navio-tanque carregado de armas ilegais (inclusive equipamento de mísseis) para a Coréia do Norte, uma frota de navios de guerra russos visitou Havana, o vice-presidente de Cuba visitou o Irã com o intuito de “expandir relações”, o vice-ministro de relações exteriores visitou Pionguiangue para fomentar “uma cooperação mais próxima”, e a Anistia Internacional censurou publicamente a onda de terror contra os dissidentes cubanos, designando cinco deles como “prisioneiros de consciência”.
Uma rápida pesquisa por notícias cubanas mostrará que o item mais noticiado nos Estados Unidos durante as últimas semanas foi a viagem de um praticante de remo de prancha que remou de Havana até Key West para “promover a paz, o amor e a amizade entre os povos de Cuba e dos Estados Unidos”. Nesta semana, cumprimentos de aniversário pelos 87 anos completados por Fidel Castro fizeram a alegria da mídia.
Fidel Castro prendeu prisioneiros políticos numa escala maior do que Stalin durante o Grande Terror, assassinou mais cubanos durante os seus três primeiros anos no poder do que Hitler o fez durante os seis primeiros anos de governo nazista e esteve mais perto de começar uma guerra nuclear em escala mundial do que qualquer outra pessoa na história. E durante este processo transformou uma nação cuja renda per capita era maior do que metade dos países europeus e cujo influxo de imigrantes era enorme em um país que causa aversão aos haitianos e que exibe o maior índice de suicídio no hemisfério ocidental.
Mas, pela simples leitura da grande mídia, quem poderia saber qualquer dessas coisas?
Em 1990, a polícia secreta de Fidel, treinada pela KGB, prendeu Antunez (citado acima), um dissidente negro cubano, e os tribunais fajutos de Fidel o sentenciaram a 17 anos de prisão. Seu crime foi o de ter gritado slogans contra Fidel em público. Oscar Biscet, um médico negro cubano, foi sentenciado a 25 anos nas câmaras de tortura de Fidel pelo crime de ter recitado em praça pública as obras de Martin Luther King e a Declaração de Direitos Humanos da ONU. Este crime tornou-se muito mais grave pelo fato de o Dr. Biscet ter denunciado, especificamente, a política de abortos forçados imposta pelo regime cubano (política que é a verdadeira explicação da “baixa taxa de mortalidade infantil”, tão alardeada por tipos como Michael Moore e organizações como o Congressional Black Caucus, a bancada dos deputados e senadores negros no congresso americano).
Muitos negros cubanos ficaram mais tempo encarcerados nos porões e câmaras de tortura da ditadura castrista do que Nelson Mandela nas prisões (relativamente) confortáveis da África do Sul. Na verdade, esses cubanos podem ser classificados como os presos políticos que por mais tempo sofreram em toda história moderna. Eusebio Penalver, Ignacio Cuesta Valle, Antonio Lopez Munoz, Ricardo Valdes Cancio, e muitos outros negros cubanos sofreram quase trinta anos nas prisões de Fidel Castro. Esses homens (e, diga-se de passagem, muitas mulheres também, brancas e negras) foram torturados a 144 quilômetros das costas americanas.
Mas você nunca tinha ouvido falar deles, não é mesmo? E no entanto da CNN à NBC, da Reuters à AP, da ABC à NPR, o feudo de Castro hospeda uma abundância de escritórios de imprensa americanos e internacionais e pulula de intrépidos “repórteres investigativos” .
Segundo ativistas anti-Apartheid, um total de 3 mil prisioneiros políticos passaram pela prisão sul-africana de Robben Island durante mais ou menos 30 anos de regime de Apartheid. Normalmente, cerca de mil eram mantidos presos. Mil pessoas num país em que a população total chegava a 40 milhões.  
De acordo com a Freedom House, um total de 500 mil prisioneiros políticos passaram pelas várias prisões e campos de trabalho forçado de Fidel Castro. Em uma certa ocasião em 1961, cerca de 300 mil cubanos foram parar na cadeia por crimes políticos. 300 mil pessoas num país em que a população era de 6.4 milhões em 1960. Um rápido cálculo revelará, facilmente, a disparidade grotesca entre os dois regimes em termos de repressão. Um breve exame da mídia revelará a disparidade grotesca da condenação dirigida antes ao (relativamente) brando regime sul-africano do que à furiosa ditadura cubana.
Em 1964 o governo do Apartheid sentenciou Nelson Mandela a 30 anos de prisão. O julgamento de Mandela foi conduzido por um judiciário independente e testemunhado por muitos observadores internacionais. As acusações contra Mandela incluíam: “A preparação, manufatura e uso de explosivos, incluindo 210 mil granadas de mão, 48 mil minas antipessoais, 1.500 bombas-relógio, 144 toneladas de nitrato de amônio, 21,6 toneladas de pó de alumínio e uma tonelada de pólvora negra. São 193 acusações relativas a atos de terrorismo cometidos entre 1961 e 1963”.
“O julgamento (de Mandela) foi conduzido de maneira legal”, escreveu Anthony Sampson, correspondente doLondon Observer (jornalista que depois escreveu a biografia autorizada de Mandela). “O juiz, o Sr. Quartus de Wet, foi escrupulosamente justo.”
Antunez, Biscet e milhares de outros cubanos foram condenados por um sistema judicial fundado por Felix Dzerzhinsky durante o Terror Vermelho de Lênin, aperfeiçoado por Andrei Vishinsky durante o Grande Terror de Stalin e transplantado para Cuba em 1959 por seus discípulos “latinos”. “Prova judicial é um detalhe burguês arcaico”, enfatizava Che Guevara aos promotores públicos. “Quando em dúvida – execute.”
“Provas legais são impossíveis de obter contra criminosos de guerra”, Fidel Castro explicou à revista Timeem fevereiro de 1959. “Então nós os sentenciamos com base em uma convicção moral.”
Essas “execuções” (assassinatos, tecnicamente falando) ultrapassariam as de Hitler durante a Noite das Facas Longas e o índice de encarceramentos superaria o de Stálin durante o seu Grande Terror, isso sem contar o índice da África do Sul durante o Apartheid.
E no entanto “a injustiça” contra Nelson Mandela é um caso judicial célebre na mídia. Mas a maioria de vocês nunca ouviram falar de Antunez, Biscet ou de nenhuma daquelas centenas de outros prisioneiros políticos cubanos negros. Por quê?

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