sexta-feira, 21 de junho de 2013

Dilma reúne ministros para avaliar extensão de protestos e conter violência




Mesmo com redução da tarifa, atos violentos foram vistos em diversas cidades, com saldo de um morto e ao menos 77 feridos; presidente estuda medidas emergenciais

21 de junho de 2013 | 1h 03

atualizado às 11h - O Estado de S. Paulo
A presidente Dilma Rousseff está reunida na manhã desta sexta-feira, 21, com ministros para analisar a extensão das manifestações recentes ocorridas no País e discutir medidas emergenciais que podem ser adotadas pelo governo para arrefecer o movimento. Está confirmada a participação do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, de quem Dilma deve pedir um balanço da situação.
Manifestante socorre vítima em Brasília, enquanto grupo invade o Palácio do Itamaraty, ao fundo - Dida Sampaio/AE
Dida Sampaio/AE
Manifestante socorre vítima em Brasília, enquanto grupo invade o Palácio do Itamaraty, ao fundo
A Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República ainda não divulgou a lista completa de participantes do encontro, mas devem estar presentes também os ministros da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e das Relações Institucionais, Ideli Salvatti.
Mesmo após a redução das tarifas de transporte público em 12 capitais - e em metade das cidades da Região Metropolitana de São Paulo -, novas manifestações levaram na quinta-feira, 20, mais de 1 milhão de pessoas às ruas de 75 cidades do País. E a violência voltou a se destacar: pela primeira vez desde o início das manifestações, há 15 dias, uma morte foi registrada, quando um motorista avançou sobre um manifestante em Ribeirão Preto (SP). Pelo menos outras 77 pessoas ficaram feridas - 55 no Rio.
Durante os protestos de quinta-feira, 20, a cena que mais chamou a atenção, foi justamente a tentativa de invasão do Palácio do Itamaraty durante a noite, em Brasília. A polícia tentou conter os invasores com gás, mas o prédio teve janelas quebradas e focos externos de incêndio. Além disso, a paisagem da Esplanada dos Ministérios foi tomada pelo gás lacrimogêneo e até a Catedral se tornou alvo de vândalos.
Após duas semanas de protestos, foi o ataque mais violento a um centro de poder. Antes, o Congresso Nacional, a Assembleia Legislativa do Rio, o Palácio dos Bandeirantes e o Edifício Matarazzo (sede da Prefeitura de São Paulo) haviam sido alvo de protestos. Nessa quinta, com novas bandeiras para o movimento sendo discutidas no Twitter e no Facebook e em meio às reivindicações sociais e políticas diversas que eram ouvidas, um novo grito destacou-se: "sem partidos".
Integrantes dessas agremiações foram proibidos de erguer bandeiras por todo o País e o PT viu fracassar a convocação de sua "onda vermelha". Houve confronto até entre manifestantes dos "sem partido" e os do "sem fascismo". Mas o caráter multifacetado do movimento já preocupa especialistas e analistas políticos, que falam em "mal-estar" da democracia no Brasil.
Em São Paulo, a manifestação chegou à Câmara, à Assembleia e a sede da Prefeitura, mas sem confrontos - na Paulista, o tom de festa venceu. No entanto, as consequências da redução de tarifa ainda eram avaliadas por Fernando Haddad (PT), que passou o dia refazendo contas. Há pelo menos três hipóteses para cobrir o déficit financeiro provocado pela revogação do aumento da tarifa, incluindo adiar o bilhete único mensal. De certo, o governo municipal aponta que o ritmo dos investimentos na cidade vai cair.
Ainda na quinta, a Justiça de São Paulo mandou soltar os quatro estudantes do Mackenzie e outras dez pessoas presas em flagrante e acusados de atos de vandalismo nos protestos de terça-feira, na região da Avenida Paulista. Eles ainda vão responder por formação de quadrilha, resistência, crime de dano, desacato e incêndio. Já a Prefeitura vai cobrar do estudante de Arquitetura Pierre Ramon Alves de Oliveira, de 20 anos, os danos que confessou ter causado à sede do Executivo municipal, na tentativa de invasão, na terça-feira.
Pacote para jovens. Está sendo costurado no governo um pacote para a juventude. A ideia inicial é oferecer um reforço ao programa Ciências sem Fronteiras (bolsas no exterior), ampliar o acesso a universidades, criar novos programas sociais para a juventude ou turbinar alguns já existentes. Em outra frente, o governo quer aumentar vagas de ensino técnico.
Ontem à noite, a Secretaria-Geral da Presidência promoveu uma reunião com assessores da Secretaria da Juventude, na qual foram avaliadas reivindicações dos manifestantes. A reunião foi flagrada pela TV Record. Eram exibidos slides com tópicos das reivindicações dos manifestantes e os seguintes dizeres: “Brasil precisa mudar”, “corrupção”, “manifestações em todo o Brasil”.
PT nas ruas. Horas antes de convocar a reunião de emergência com ministros a presidente viu-se obrigada a enquadrar a direção nacional do PT, que estimulou militantes a se unirem aos protestos das ruas. Diante do clima político tenso e confuso, Dilma irritou-se e censurou a atitude do presidente do PT, Rui Falcão, que conclamou militantes do partido, por meio do microblog Twitter, para uma passeata liderada pelo Movimento Passe Livre (MPL), na Avenida Paulista.
Falcão tinha convocado petistas para as manifestações dessa quinta em comemoração à redução nos preços das passagens de ônibus, mas recuou e retirou a hashtag “#ondavermelha” do seu perfil do Twitter.
A preocupação do Palácio do Planalto e de vários dirigentes petistas era com a reação dos manifestantes, que rejeitavam a presença de partidos nos protestos. Parte dos políticos da legenda previam que a incitação petista poderia dar fôlego a movimentos de hostilidade contra o partido, como de fato acabou ocorrendo.
Em outro documento, uma nota do PT nacional, Rui Falcão revela a busca do partido por um novo discurso político, que vai além da inclusão social tão destacada pelos governos Lula e Dilma. Em seu primeiro parágrafo, Falcão afirma que os movimentos “colocam na ordem do dia uma nova agenda”. O petista insiste no ataque à mídia. “A presença de filiados do PT, com nossas cores e bandeiras, neste e em todos os movimentos sociais, tem sido fator positivo não só para o fortalecimento, mas, inclusive, para impedir que a mídia conservadora e a direita possam influenciar, com suas pautas, as manifestações legítimas”, diz o texto.
O “convite” aos petistas no Twitter foi considerado um desastre em algumas alas do PT. Dirigentes alertaram o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, que tem se credenciado como o consultor político de Dilma, sobre o risco de embate entre petistas e manifestantes.
A principal preocupação de parte dos dirigentes é que ao misturar o PT nas ruas num momento de tensão o próprio partido dê munição a adversários para que transformem parte dos protestos em atos contra o governo e Dilma, que, até o momento, não são o alvo central.
Mas uma ala petista acha que o partido tem direito de ir para as ruas e de fazer manifestações, já que é considerada uma legenda de massas e de mobilizações, com uma ampla militância e pode ter detectado a necessidade de se conectar melhor com a sociedade. Outra ala, no entanto, acha que o PT tentar se impor em uma manifestação apartidária pode apenas expor o partido, o governo e Dilma.
O chamamento de Rui Falcão foi atacado pesadamente por jovens que rejeitaram a participação do PT nas manifestações. “Piada do dia”, “somos apartidários”, “sai pra lá aproveitadores” e “oportunismo canalha” foram algumas das críticas que se fizeram seguir à orientação do dirigente petista.
“Eles são contra o governo Dilma. E o PT é o governo Dilma. Ir para a rua só se for para apanharmos”, disse o deputado Domingos Dutra (PT-MA). Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (PT-SP), afirmou que teve vontade de ir para o meio da multidão. “Não fui porque não fui chamado. Não sei se me aceitariam”, disse ele.
Oposição. A ex-senadora Marina Silva usou metáforas para falar da intenção de partidos de irem às ruas. “Navegar o rio depois que ele transbordou é o que todo mundo faz. Difícil é trabalhar o curso do rio enquanto está cavando a terra.” “O PT vai dizer o quê? Esse é o maior movimento depois das Diretas-Já. Contesta os dez anos do governo do PT. Só se for para fazerem mea culpa”, disse o presidente do DEM, José Agripino (RN). /Rafael Moraes Moura, Tânia Monteiro e João Domingos
  

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