C


Ricardo Noblat
vinheta-opiniao-forteDigamos que proceda a desconfiança disseminada pelo governo cubano de que a blogueira Yoani Sánchez é, sim, agente da CIA, a agência de espionagem americana.
Por sinal, estão em cartaz dois filmes, concorrentes ao Oscar, que destacam a eficiência da CIA: “A hora mais escura”,” sobre a captura e morte de Bin Laden, e “Argo” que trata do resgate de um grupo de americanos reféns do regime iraniano.
O que A CIA esperava da passagem de Yoani pelo Brasil? Que ela tivesse oportunidades para falar mal de Cuba, há mais de 50 anos sob o controle dos irmãos Castro (Fidel e Raúl). E que a imprensa, ocupada com os assuntos internos do país, dedi­casse à blogueira um mínimo de atenção. Ela via­jou ao Brasil a convite do jornal “O Estado de S. Paulo” Ali, certamente, teria espaço garantido.
Com o que a CIA não contava? Com a adesão entu­siástica aos seus planos dos partidos brasileiros de esquerda. Por toda a sua vida, a esquerda batalhou para chegar ao poder. E a CIA, e os serviços de espi­onagem que a antecederam, sempre atrapalhou. Tentou chegar pela primeira vez em 1935 ao defla­grar a Intentona Comunista. O movimento fracas­sou em menos de 72 horas. Um vexame.
A renpuncia em 1961 de Jânio Quadros permitiu que o vice João Goulart ascendesse à Presidência da Repú­blica. A esquerda imaginou que, se o manobrasse com apuro, o poder acabaria ao alcance de suas mãos. Os militares derrubaram Goulart e empolga­ram o poder durante 21 anos. Depois se passaram três eleições para que, na quarta, cavalgando o ex- metalúrgico Lula, a esquerda finalmente chegasse lá.
Uma esquerda dócil, que renunciara à maioria dos seus dogmas. A esquerda possível, haja vista que seu principal líder nunca foi de esquerda. Em­bora atraente devido às suas miçangas, o penoso exercício do poder desfigurou a esquerda por com­pleto, a ponto de levá-la a se sentar no banco dos réus. Nem por isso se pensou que pudesse tê-la despojado de inteligência. Foi o que aconteceu.
Faltará ao governo cubano a energia do passa­do? Não me refiro ao “paredón” como instrumento de castigo para os que contrariam os interesses do regime. O “paredón” saiu se moda; Mas, entre ele e uma reles admoestação, deve haver um meio-ter­mo para se punir o desastrado embaixador que pe­diu a ajuda de ativistas políticos tão espertos quan­to ele. Resultado: transformaram a vilegiatura de Yoâni em um baita sucesso de audiência.
Não o debitem, porém, apenas à ignorância das se­ções juvenis de partidos e de organizações que ain­da pregam a implantação do comunismo no país. Por que as direções de partidos como o PT e o PCdoB não desautorizaram os atos de hostilidade dos seus militantes contra a blogueira cubana? Ora, porque estavam de acordo com eles. Sabiam quem os encomendara. Calaram por conveniência.
Nem assim conseguiram esconder suas impressões di­gitais deixadas em cada um dos atos. Yoani foi à Câma­ra falar em uma comissão técnica. Deputados do PT em desespero, convenceram Henrique Alves, presi­dente da Câmara, a convocar sessão extraordinária. Evitariam assim que a TV Câmara transmitisse a expo­sição de Yoani. Realizou-se a sessão. Mas Yoani foi até lá confraternizar com seus algozes. Ou seus cúmplices.
Na semana que passou não teve para ninguém — nem para Dilma, lançada candidata à reeleição, nem para Lula, que a lançou, nem para Aécio, que discursou no Senado. Só deu Yoani. Comovida, a CIA agradece aos seus agentes voluntários.
FONTE: O Globo via Resenha do Exército