domingo, 23 de dezembro de 2012

O DESASTRE DE SOROCABA: Empresa que constrói shopping não viu necessidade de escorar parede



Parte da parede do prédio desabou na noite de quinta-feira, causando a morte de sete pessoas, em Sorocaba; seis vítimas serão sepultadas neste sábado

Acidente em Sorocaba deixa oito mortos
Seis vítimas do acidente serão enterradas neste sábado (Reprodução de reportagem do Jornal Nacional)
O diretor de Operações do Pátio Cianê, Márcio Araujo, disse nesta sexta-feira que não foi identificada a necessidade de reforçar as paredes quando o telhado da antiga fábrica foi retirado, há três meses. Parte de uma parede desabou na noite de quinta-feira, causando a morte de sete pessoas, em Sorocaba, no estado de São Paulo. A estrutura pertencia à fábrica de tecidos Cianê, construída em 1913. O prédio, que passa por restauração, receberá um shopping.
O Patio Cianê, empresa que constrói o shopping, informou em nota ser "prematuro" apontar uma causa para o acidente. De acordo com a empresa a obra estava devidamente licenciada pelos órgãos oficiais responsáveis e correndo dentro de todos os padrões usuais de segurança e qualidade, acompanhada pela construtora Fonseca e Mercadante. A empresa lamentou "profundamente" o acidente e informou estar prestando as informações necessárias às autoridades.

Segundo Araujo, os engenheiros e arquitetos que acompanham a obra consideraram que a estrutura, naquele momento, estava segura. Ele afirmou que os técnicos da prefeitura autorizaram as obras, inclusive a movimentação de terra no interior do conjunto, e acompanhavam os serviços. A prefeitura, no entanto, informou que a responsabilidade pelas obras é da empresa.

O delegado José Antonio Belloti, da Delegacia Seccional, acompanhou na sexta-feira o trabalho dos peritos da área de engenharia da Polícia Civil. "O laudo vai se somar às outras provas para elucidar as circunstâncias do acidente, mas ainda é cedo para dizer se haverá indiciamentos." Ele requisitará as imagens de câmeras de monitoramento do trânsito que registraram a queda do muro, de dez metros de altura. O prédio da Fábrica de Tecidos Santo Antonio, inaugurado em 1913, era tombado pelo patrimônio histórico municipal e estava em obras. A prefeitura também investiga o acidente. Os bombeiros que resgataram as vítimas informaram que chovera muito e o muro pode ter sofrido infiltração.
Vítimas - O sargento da Polícia Militar Carlos Silva Filho, que trabalhava no resgate, encontrou a própria sobrinha entre as vítimas. De início, ele não reconheceu Samantha Bianca da Conceição, de 24 anos, porque ela estava com o rosto sujo de barro. Ele levou um choque ao reconhecer o marido dela, Anderson Shendrosk, retirado ainda com vida dos escombros. Ele permanecia internado no Hospital Regional. O pai de Samantha, Samuel Vitorino da Conceição, disse que a filha, casada havia dois anos, tinha passado no vestibular e iniciaria o curso de Administração de Empresas.

Seis vítimas serão sepultadas neste sábado em cemitérios da cidade. O prefeito Vitor Lippi (PSDB) decretou luto por três dias.Os corpos da assistente administrativa Evelin Cristina Siqueira, de 30 anos, do seu filho Tiago Alves Siqueira, de 5, e da irmã Nhayara Pamela Airola, de 25, serão sepultados no Memorial Park, onde também será depositado o corpo do vigilante Rayner Alves, de 28. Os corpos do taxista Humberto Dias Ferreira, de 53 anos, e de Samantha Bianca da Conceição, de 24, serão sepultados no cemitério Santo Antonio. O médico Adilson Nunes Filho, de 35 anos, será enterrado no Cemitério Municipal de Cerquilho, cidade onde morava.

Evelin, o filho e a irmã estavam em um dos quatro carros atingidos pelos escombros. Outro filho de Evelin escapou por pouco do acidente: a família fazia compras para o Natal e ele preferiu ir de carro com a avó materna, que seguia um pouco à frente. O pai do vigilante Rayner aguardava o filho que saíra do trabalho quando ouviu notícias do acidente. Como o vigilante estava no trajeto, foi até o local e acabou reconhecendo o filho entre as vítimas. Samantha também voltava das compras com o marido quando ocorreu o desabamento. Ela morreu na hora, enquanto ele, retirado dos escombros, apresentou sinal de vida e foi levado ao Hospital Regional. Seu estado era considerado estável na sexta-feira.

O taxista Humberto havia saído do ponto em que trabalhava havia 14 anos, no Mercado Municipal, e seguia para casa. Ele estava sozinho no carro atingido pelos tijolos, assim como o médico Adilson. Pai de dois filhos, o endocrinologista atendia em sua clínica particular e no hospital Unimed de Sorocaba. Familiares e amigos das vítimas lotaram os salões da funerária Ofebas, onde os corpos de cinco pessoas foram velados, em clima de tristeza e revolta. As pessoas cobravam rigor na apuração das causas do desabamento.

(Com Estadão Conteúdo)

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