quarta-feira, 29 de agosto de 2012

SOBRE A HIPOCRISIA E A PERFÍDIA: Kassab nega violação de sigilo; rivais criticam caso - Minha saúde te importa?





Quando a hipocrisia e a perfídia andam juntas o resultado é esse aí embaixo. Leiam os dois artigos e vejam como se comportam os petralhas em relação ao povo que os elegem. 


O Editor
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Kassab nega violação de sigilo; rivais criticam caso

Prefeitura havia passado informações para contestar programa eleitoral de Haddad

28 de agosto de 2012 | 22h 35
A gestão do prefeito Gilberto Kassab (PSD) negou na terça-feira, 28, ter quebrado o sigilo médico do caminhoneiro José Machado ao divulgar dados sobre seu estado de saúde e sobre os atendimentos que ele recebeu na rede paulistana. A divulgação dos dados foi feita oficialmente pela Prefeitura com o objetivo de contestar um quadro do programa de TV do candidato do PT, Fernando Haddad.
José Serra visita bairro so Socorro, em SP - Ernesto Rodrigues/AE
Ernesto Rodrigues/AE
José Serra visita bairro so Socorro, em SP
Na peça publicitária petista, Machado dizia esperar por dois anos por uma cirurgia de catarata na rede municipal. Procurada peloEstado na segunda-feira a fim de comentar a propaganda, a Prefeitura deu datas de atendimentos feitos pela rede e informou que, na verdade, ele sofre de pterígio - crescimento de tecido sobre a córnea -, e não de catarata, como divulgou a campanha de Haddad.
Para especialistas ouvidos pelo Estado, divulgar dados médicos sem autorização do paciente configura quebra de sigilo médico. Machado afirmou não ter dado autorização à Prefeitura.
Haddad afirmou que a divulgação do prontuário do personagem que apareceu em seu programa de TV "é o caso mais grave que aconteceu nessa campanha até o presente momento". "Acho muito sério quebrar sigilo de paciente. Foi um erro grave que a Prefeitura cometeu para favorecer a sua candidatura (de José Serra)", disse o candidato petista.
O petista cobrou do Ministério Público a abertura de inquérito para apurar a responsabilidade pela suposta quebra do sigilo médico. "Foi o PT que colocou no ar. Aí o jornal procurou pela secretaria para saber se eram verdadeiras. E a secretaria disse que não são verdadeiras, dentro da ética médica", rebateu Kassab.
Questionado sobre as informações divulgadas pelo seu programa e pela secretaria, Haddad disse "para qualquer uma das versões (catarata ou pterígio), a solução do problema é muito simples e não foi resolvido". Para o petista, suposta quebra do sigilo médico "é o caso mais grave que aconteceu nessa campanha até o presente momento".
O candidato do PRB, Celso Russomanno, afirmou que a Prefeitura "praticou ilegalidade" ao abrir dados médicos do paciente. "Um prontuário médico, de acordo com o Código de Defesa do Consumidor e com o Código de Ética Médica, pertence ao paciente, não ao médico, muito menos ao hospital. Se abriram esse prontuário, de fato, praticaram ilegalidade", disse o candidato.
Já Kassab culpou os petistas de expor o caminhoneiro. "O PT colocou no ar. Aí o jornal procurou pela secretaria querendo saber se são verdadeiras. E a secretaria disse que não são verdadeiras, dentro daquilo que pode ser divulgado", afirmou o prefeito.
O candidato do PSDB, José Serra, padrinho político de Kassab, afirmou que a questão essencial não é o fato de a Prefeitura ter acessado e divulgado dados médicos do paciente, e sim se houve ou não erro no programa de Haddad. "E daí?", afirmou o tucano ao ser questionado sobre o acesso ao diagnóstico de Machado e sua posterior divulgação como contraponto ao vídeo da campanha.
A assessoria de imprensa da Secretaria da Saúde, que repassou os dados médicos completos de José Machado à reportagem na segunda, divulgou nota na terça na qual afirma não ter havido "quebra de sigilo médico", pois haviam sido passadas "parcas informações" para esclarecer o caso.
O oftalmologista Paulo de Arruda Mello Filho, da Unifesp, disse catarata e pterígio têm causas diversas, mas são resolvidos com cirurgias simples. A catarata é o aumento da opacidade de uma "lente natural" do olho, o cristalino. A cirurgia custa cerca de R$ 2 mil e é feita por um equipamento que substitui o cristalino por uma lente artificial. O pterígio costuma ter implicações estéticas, sem afetar a visão. A operação custa cerca de R$ 300 e é feita com bisturi. / JULIA DUAILIBI, BRUNO LUPION, ISADORA PERON e RICARDO CHAPOLA
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A impressão é que o brasileiro não apenas entregou seu corpo em favor do governo (pois trabalha para ele durante boa parte do ano), mas também sua alma, pois não se importa com as investidas do poder público contra sua intimidade.

O Ministério da Saúde, por meio da Portaria 763/11, determinou que todos os pacientes atendidos pela rede pública ou privada de saúde devem apresentar sua CNS - Carteira Nacional de Saúde, a fim de que todos os procedimentos sejam registrados, vinculando seus nomes, juntamente com o procedimento aplicado, aos dos profissionais de saúde que os atenderam e dos hospitais envolvidos.
Obviamente, os objetivos apresentados são os mais nobres: integração dos dados, controle e administração dos ressarcimentos que o SUS tem direito ao atender paciente vindos de planos particulares e monitoramento do histórico médico de todos os cidadãos, a fim de facilitar a implantação de políticas públicas adequadas.
E ainda que a exigência de apresentação da CNS esteja, temporariamente suspensa, mantém-se a obrigatoriedade de os planos de saúde informarem o número do registro do paciente no SUS no momento do atendimento e, se ele não possuir tal número, registrarem, em tempo real, o cidadão para que ele receba tal identificação.
Está claro, portanto, que, ainda que o desejo do governo não esteja totalmente implantado, o objetivo é o controle total dos dados relativos aos históricos médicos de todos os cidadãos da nação.
Ter, em suas mãos, todas as informações relativas aos cidadãos de seu país é o sonho (que parece não tão utópico) dos governos atuais. O governo brasileiro, tomado, como está, por homens formados por uma ideologia que sempre fora totalitária, não poderia ser diferente. Por isso, ainda que a privacidade, o sigilo e a intimidade sejam protegidos pela Carta Magna do país, não há constrangimento algum na criação de mecanismos que exponham a vida daqueles que habitam nesta terra.
O pior é que também não se vê reação alguma, sequer para o debate, contra essas medidas totalitárias que ignoram completamente qualquer direito à preservação da vida privada dos cidadãos. A impressão é que o brasileiro não apenas entregou seu corpo em favor do governo (pois trabalha para ele durante boa parte do ano), mas também sua alma, pois não se importa com as investidas do poder público contra sua intimidade.
Talvez porque tais medidas sempre venham acompanhadas das melhores justificativas, como segurança, razões financeiras ou organização administrativa, as pessoas acabam aceitando os abusos, calando-se diante deles, tudo em favor do bem comum.
Parece que as gerações atuais sequer possuem noção do que significa o direito à privacidade. Cercados como estão (e por que não dizer: doutrinados?) por uma propaganda massiva que exalta o escancaramento da vida privada, têm esta como algo absolutamente dispensável, senão negativo.
Por isso que, quando surge uma determinação como essa do Ministério da Saúde, que determina que todos os cidadãos do país possuam um cadastro no SUS e sejam obrigados a apresentar o número relativo a ele, seja em consultas em hospitais públicos, seja em particulares, pouquíssimas pessoas percebem o perigo que se encontra em tal medida.
Se o objetivo é a reunião de dados sobre números e tipos de atendimento, será que é tão necessário que o paciente seja identificado? Não bastaria a estatística impessoal, com números e datas dos procedimentos, sem que as pessoas precisem revelar o que fizeram?

É verdade que, pelos meios eletrônicos de informação, qualquer rede pública de saúde poderia ter acesso, facilmente, pelo número de um documento como o CPF, a todo o histórico de atendimento em seus hospitais. Este é o preço que se paga por necessitar dos serviços do Estado. Porém, quando a obrigatoriedade atinge a rede particular, então a sensação é de que não é possível mais fugir dos braços estatais.
A saúde de uma pessoa talvez seja um dos aspectos mais íntimos de sua vida. Há doenças que, muitas vezes, elas não querem que sejam conhecidas, por vergonha, por medo ou por qualquer outro motivo que lhe cabe por direito. Quando mesmo esse aspecto de sua vida é, dessa maneira como deseja o governo, devassado, a sensação é de que os homens não pertencem mais a si mesmos, mas são meros instrumentos do poder governamental.
A força que o Estado obtém com informações como essas é impressionante. Por exemplo, ele pode proibir pessoas que não participaram de campanhas de vacinações a receber atendimentos hospitalares até que aquela situação imposta seja regularizada. Também qualquer agente governamental, com base nos dados contidos no sistema, terá acesso ao histórico de saúde de qualquer cidadão, conhecendo, assim, detalhes íntimos que talvez mais ninguém saiba, nem familiares, nem amigos, tendo assim, em suas mãos, um instrumento que possibilita todo tipo de extorsão ou ameaça.
De qualquer forma, ainda que se considere esses motivos como paranoia de ativistas anti-estatais, não se pode negar que, da maneira como as políticas públicas estão sendo implantadas, a privacidade vai se tornar uma palavra tão obsoleta que talvez apenas os mais letrados e conscientes de seu valor saberão qual é o seu verdadeiro significado.

Fábio Blanco, advogado e teólogo, edita o blog Discursos de Cadeira.

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