sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Desalojada, filha de sem-teto luta para ir à escola em SP


Casos como o dessa pobre garotinha, só é possível por causa de irresponsáveis que lideram milhares de famílias que o seguem na ilusão de conseguirem uma casa onde poder morar. Depois das invasões de prédios particulares ou públicos, que são sempre desocupados pela polícia, por força de Mandados de Reintegração de Posse, essas pobres famílias são jogadas no meio das ruas e ficam ao relento esperando por providências que nunca são tomadas por parte desses "líderes" irresponsáveis que visam apenas aparecerem com suas falsas bandeiras de defensores dos "oprimidos" pela burguesia.


O Editor
___________________________________________________________





PUBLICIDADE
ALESSANDRO SHINODA
RICARDO GALLO
DE SÃO PAULO
Enquanto policiais mandavam um grupo de sem-teto esvaziar um prédio invadido na avenida Ipiranga, centro de São Paulo, na terça-feira, Júlia, 7, só pensava em não deixar para trás todo o seu material escolar --mochila, três cadernos, lápis e borracha.
Em protesto contra a reintegração de posse, a família (pai, mãe, ela e uma irmã de dois anos) e parte dos sem-teto decidiram acampar na av. São João, em frente à Secretaria Municipal de Habitação.

Casa de Julia

 Ver em tamanho maior »
Alessandro Shinoda/Folhapress
AnteriorPróxima
Júlia Rafela Andrade Belizario, 7, se prepara para a desocupação do prédio na avenida Ipiranga, 908 (centro de SP), na terça-feira (28)
Nas barracas de lona, Júlia guardou o material na cômoda ao lado da cama montada sobre o chão da rua. Paula Renata Andrade, 31, a mãe, diz que a filha não queria perder aula no dia seguinte.
Ainda haveria a noite pela frente, a primeira da família Andrade na rua. Eles estavam no prédio na Ipiranga desde o final de 2011, quando foram obrigados a deixar um quartinho em que viviam de favor em Guaianases, zona leste.
Fazia frio e a lona da barraca não impedia o vento de entrar. Mesmo protegida por cobertores, a menina acordou com os lábios rachados pelo frio, e o corpo dolorido pela cama dura. "Tava muito frio, parecendo gelo", disse.
Na quarta, ela acordou às 7h com preguiça, esperando o relógio marcar as 10h, diz a mãe. Júlia sabe que o banho antecede a ida para o colégio. Ela entra às 13h na escola estadual Prudente de Moraes, na avenida Tiradentes, a 1 km do acampamento.
PORTÃO FECHADO
Depois do café da manhã (um copo de refrigerante e pão com manteiga, doação de um restaurante), a mãe conseguiu que ela tomasse banho em outro prédio invadido na Ipiranga.
Só que havia fila, e Paula e Júlia demoraram mais do que o planejado. Chegaram às 13h08 à escola. Os portões haviam fechado.
Paula ainda insistiu com uma funcionária, que negou a entrada. Júlia teve que voltar para o acampamento. "Não acredito que não me deixaram entrar. Não faltei porque eu quis", disse à mãe. "Queria ir para educação física, estudar, ir no recreio."
Paula diz que Júlia sempre foi assim. E que, mesmo acampada, incentivará a filha a ir à aula. "Primeiro que é o direito dela de ir à escola, e ela gosta. Queria dar continuidade, para ela aproveitar esse prazer que ela tem."
A família não tem planos de sair tão cedo do acampamento, até porque não tem para onde ir. Paula, auxiliar de cozinha desempregada, concluiu o segundo grau. O sonho dela é que a filha faça curso superior. "Ela quer ser médica. Já tem o próprio sonho dela, vive dizendo: 'Mãe, quando eu virar médica, vou te dar uma casa e um carro'."
Desempregados, a mãe e o pai vivem com os R$ 620 do seguro-desemprego dela, o que não dá para pagar aluguel e se sustentar, diz ela.
Ontem, Júlia saiu mais cedo de casa e, enfim, foi à aula. Ao chegar, disse, orientada pela mãe, que faltou em consequência da reintegração de posse. O dono do imóvel conseguiu liminar para retomar o prédio um mês antes.
*
A Secretaria da Educação do Estado lamentou que a aluna tenha sido impedida de assistir à aula e disse que o conteúdo seria reposto ontem. Afirmou ainda que ia apurar a conduta da agente que atendeu Paula e Júlia.
A Secretaria Municipal da Habitação disse que ofereceu às famílias retiradas do prédio na Ipiranga e a possibilidade de ir para abrigos e que elas estão cadastradas em programas habitacionais. A família de Júlia não foi para abrigo pois isso os separaria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário