sexta-feira, 29 de junho de 2012

O que fazer com o Paraguai?


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Dilma e Lugo: apoio ao ex-presidente pode complicar relações dentro do Mercosul (Jorge Romero/AFP)
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Brasil se excedeu na condenação do impeachment de Fernando Lugo?

por Felipe Varne
fonte | A A A
Foram necessárias 31 horas para que Fernando Lugo fosse julgado pelo Senado paraguaio, e destituído da presidência. Quase o mesmo tempo foi necessário para que líderes por toda América Latina recriminassem a ação, comparando-a a um golpe de Estado. Na reunião do Mercosul que começou nesta quinta-feira, 28, em Mendoza, na Argentina, Lugo afirmou que iria como observador, mas voltou atrás. Federico Franco, seu sucessor, foi considerado persona non grata pelo evento, e decidiu enviar o ministro das Relações Exteriores, José Felix Fernández, como representante. Mesmo sem a presença dos dois lados da disputa, o Paraguai está suspenso do Mercosul, que começa a abrir seus braços para novos membros como a Venezuela (cuja entrada no bloco dependia apenas de um sinal verde do mesmo Senado que destituiu Lugo) e Equador.
“Mau desempenho das funções” foi o motivo alegado pelo Senado para que Fernando Lugo fosse afastado da presidência paraguaia. Esse “mau desempenho” teria sido fruto de sua negligência e inaptidão no confronto entre policias e camponeses que deixou 17 mortes em Curuguaty, no departamento de Canindeyú, no leste do país, próximo à fronteira com o estado brasileiro do Paraná. Para figuras da oposição, como o deputado Salym Buzzarouis, do PLRA (Partido Liberal Radical Autêntico), o processo foi tão legal quanto o impeachment de Fernando Collor. “Aqui não há nenhum golpe, foi tudo 100% constitucional. Se um julgamento político é golpe de Estado, então os brasileiros já fizeram um golpe de Estado em 1992”, disse. Para a esquerda, tratou-se de um golpe patrocinado por corporações estrangeiras como a Monsanto, interessadas em “perseguir os camponeses, tomar suas terras, e garantir a proliferação de seus transgênicos”, como escreveu o jornalista paraguaio Idilio Méndez Grimaldi, dias antes da aprovação do impeachment.
Se por um lado não restam dúvidas de que a Constituição paraguaia prevê a remoção de um presidente por “mau desempenho das funções”, por outro, a impressionante velocidade com que seu processo de impeachment foi concluído deu aos líderes dos países vizinhos a clara impressão de que o ex-bispo paraguaio fora vítima de um golpe.
Dilma Rousseff sugeriu a suspensão do Mercosul. A argentina Cristina Kirchner, o equatoriano Rafael Correa, e o dominicano Leonel Fernández, se recusaram a reconhecer Franco como o novo presidente do Paraguai. Colômbia e Chile também condenaram o impeachment, que foi considerado um golpe de Estado pelos países da Aliança Bolivariana para as Américas (ALBA). A vasta maioria dos países da América Central e do Sul retirou seus embaixadores do Paraguai. Apenas Canadá, Alemanha e Espanha reconheceram oficialmente o novo governo.
A grande questão: o que isso tem a ver conosco?
Muito, diz Grimaldi. “O Brasil está construindo um processo de hegemonia mundial junto com a Rússia, Índia e China. No entanto, os Estados Unidos não recuam na tentativa de manter seu poder de influência na região”, afirma o jornalista. “Enquanto isso, Washington segue sua ofensiva diplomática em Brasília, tratando de convencer o governo de Dilma Rousseff a estreitar vínculos comerciais, tecnológicos e militares, e o Paraguai é um país em disputa por ambos, sendo ainda amplamente dominado pelos Estados Unidos. Por isso, os eventos de Curuguaty representam também um pequeno sinal para o Brasil, no sentido de que o Paraguai pode se converter em um obstáculo para o desenvolvimento do sudoeste do Brasil”.
Já Carlos Góes, em seu texto publicado quarta-feira, 27, no Opinião & Notícia, alerta para os perigos que uma era intervencionista pode trazer ao Brasil, citando os duvidosos reultados das missões no Haiti e do apoio ao ex-presidente hondurenho Manuel Zelaya. “As reverberações do intervencionismo terminam por limitar as possibilidades de atuação política do governo, por opções que penalizam as pessoas – e não governos –  e para caminhos cada vez mais radicalizados. É necessário recordar, portanto, que as sanções que Hugo Chávez hoje impõe ao Paraguai são justificadas de maneira idêntica àquelas aplicadas contra o Iraque e que acabaram por resultar numa invasão militar: a imposição exógena de uma visão de democracia”, diz Góes.
Tudo indica que, uma vez apaziguada a situação no país, as relações do Paraguai com seus vizinhos devam voltar oa normal. Em suas primeiras entrevistas como presidente, Franco tem enfatizado a necessidade de não criar problemas com os países da América do Sul. “Somos o menor país da região e precisamos de nossos vizinhos. Tenho 14 meses para governar e o que menos quero é ter problemas com vizinhos poderosos como Brasil e Argentina”. O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota, confirmou que há consenso no Mercosul para não aplicar sanções econômicas ao Paraguai. Segundo o chanceler, o mais provável é que o bloco prorrogue a suspensão do país para continuar participando de reuniões e do processo decisório interno do bloco.
Caro Leitor,
Você acredita que o governo brasileiro acertou ao condenar o impeachment do presidente paraguaio Fernando Lugo?
Na sua opinião, o Mercosul e a Unasul agiram corretamente ao suspender o Paraguai de suas atividades?
Qual deve ser a atitude do Brasil em relação ao novo governo paraguaio?
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