sábado, 23 de junho de 2012

Hollande: poderoso e perigoso


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Os novos rumos da França de François Hollande preocupam investidores estrangeiros (Reuters)
FRANÇA


Investidores que duvidavam que o novo presidente francês se manteria fiel às ousadas promessas de campanha estão prestes a ter uma amarga surpresa

fonte | A A A
O presidente francês tem mais poder do que qualquer outro líder europeu. E, após o segundo turno das eleições parlamentares em 17 de junho, François Hollande tem, no papel, mais poder do que qualquer outro presidente na história da Quinta República da França. Seu Partido Socialista agora controla as duas casas do Legislativo, todas – exceto uma – as regiões francesas, e a maioria dos departamentos, cidades grandes e comunas do país. A questão é: o que este homem cuidadosamente modesto fará com tanto poder?
Hollande passou um ano em campanha, primeiro pela indicação do partido, depois pela presidência, e por fim, pelas eleições legislativas. Somente agora ele pode começar a governar, depois de uma calorosa recepção de seus vizinhos da União Europeia. Seus fãs dizem que ele é mais moderado e pró-Europa do que a maioria dos membros do seu partido, e destacam seu compromisso com o corte do orçamento nacional para menos de 3% do PIB em 2013, e suas ligações os sociais democratas da Alemanha e da Escandinávia. Seu plano de adicionar medidas de estímulo ao crescimento à austeridade fiscal da zona do euro. Seu “pacto europeu de crescimento”, elaborado sobre títulos de projetos, e mais capital para o Banco Europeu de Investimentos, é apoiado pela Itália e a Espanha.
No entanto, todos os que esperavam que o presidente francês abandonasse rapidamente suas promessas de campanha devem se desapontar. Hollande pode ser moderado para os padrões dos socialistas franceses, mas isso acontece principalmente porque seu partido está fragmentado. Na Alemanha e na Escandinávia, os partidos de centro-esquerda dividem um desejo por igualdade e Estados de bem-estar social generosos. Mas eles também abraçam os benefícios da competição e das políticas econômicas liberais: políticas às quais o presidente francês e seus apoiadores se opõem fervorosamente.
É por isso que Hollande começará cortando a idade de aposentadoria para alguns trabalhadores para 60 anos, aumentando os impostos sobre a população mais rica para 75%, aumentando o salário mínimo, e tornando muito difícil para que trabalhadores sejam despedidos. Ao invés de diminuir o setor público, equivalente a 56% do PIB – o maior da zona do euro – ele parece disposto a expandi-lo. Com essas políticas, ele está agindo contra as mudanças no resto da União Europeia. Essas medidas não ajudarão a aumentar a competitividade da França, que enfrenta um período de declínio, e também não tornará o clima dos negócios mais amigável.
Em 2012 assim como em 1981
A França é um país rico. Mas é mais vulnerável hoje do que era em 1981, quando o último socialista no poder antes de Hollande, tentou, e não conseguiu, implantar uma forma de socialismo durante seu mandato. A dívida francesa atual é de 90% do PIB, ao contrário dos 20% de 1981, e sua economia já foi rebaixada por uma agência de crédito. Mercados apreensivos veem a França mais próxima da Espanha e da Grécia do que da Alemanha e da Áustria. Essa visão só ganha mais força cada vez que Hollande se junta a líderes espanhóis e italianos para pressionar a Alemanha a ser mais generosa com seu crédito, uma tática que atrapalha suas relações com Angela Merkel.
No fim, assim como aconteceu com Mitterand, Hollande terá que enfrentar a realidade. Uma França enfraquecida não terá alternativa a não ser abraçar reformas estruturais, e apostar numa economia mais liberal. E isso certamente levará menos tempo que os dois anos que Mitterand teve antes de sua mudança de rumo. Nesse meio tempo, um presidente Hollande poderoso poderia causar grandes estragos ao seu país.
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