sexta-feira, 30 de março de 2012

Guardas agora vão falar até chinês



Ideia é que 2 mil homens da GCM sirvam de intérpretes em SP para turistas na Copa de 2014

29 de março de 2012 | 22h 30
Artur Rodrigues - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Bandeirinhas da Inglaterra, da Espanha e da China vão identificar os idiomas falados por cerca de 2 mil intérpretes da Guarda Civil Metropolitana (GCM) de São Paulo. Até a Copa de 2014, os guardas bilíngues já devem estar nas ruas, conforme plano da Secretaria Municipal de Segurança Urbana, que visa a melhorar a comunicação com turistas e imigrantes. Retoma-se assim uma tradição da antiga Guarda Civil que, antes de ser extinta, em 1970, manteve por décadas uma divisão composta apenas por intérpretes.
"Nós estamos trabalhando para reforçar a presença de intérpretes nas regiões onde há muitos turistas. E também vamos considerar áreas com mais imigrantes", afirma o secretário de Segurança Urbana, Edsom Ortega. As bandeirinhas estão sendo confeccionadas e serão afixadas na manga da camisa dos guardas. Abaixo delas, haverá um círculo com a letra "i", símbolo internacional de intérprete. Dessa maneira, ao ver a bandeira na manga dos guardas-civis, os estrangeiros saberão a quem pedir ajuda.
Segundo o secretário, como a GCM cuida de praças e parques da capital, é grande o número de turistas atrás de informações. E hoje as chances de estrangeiros encontrarem agentes bilíngues é pequena. Atualmente, 114 guardas falam inglês avançado ou intermediário e outros 60 estão nos mesmos níveis em espanhol. Há ainda outros agentes somente com nível básico nas duas línguas.
Mandarim. Além de ampliar o ensino de inglês e espanhol, haverá também guardas preparados para atender a demanda cada vez maior de chineses na capital. O mandarim deve passar a ser ensinado por meio de um convênio com o Instituto Confúcio, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), que será assinado em abril. Os que se saírem melhor poderão fazer um curso de um mês na China. Há também a possibilidade de que alguns fiquem por um ano no país asiático para aprofundar os estudos.
A secretaria também articula a possibilidade de viagens de estudos a países de língua inglesa e espanhola. As duas línguas são as mais faladas pelos turistas que se hospedaram na capital no último semestre de 2011, de acordo com estudo da São Paulo Turismo (SPTuris). O ranking da procedência de estrangeiros de passagem pela capital era liderado pelos americanos, seguidos por argentinos, japoneses, alemães e espanhóis. O motivo da vinda de 69,4% era a participação em convenções ou viagens de negócios.
O Anhembi, que concentra muitos desses eventos, deve ser bastante beneficiado pela presença de intérpretes. Avenida Paulista, Praça da República e Parque do Ibirapuera, entre outros pontos turísticos, também receberão reforço. A região de Itaquera, na zona leste da capital, onde fica o estádio que abrigará a abertura da Copa do Mundo, também deverá ter a presença de guardas para os eventos de 2014.
Se não houver um intérprete no local, os guardas poderão ainda pedir a ajuda de um colega, por meio de uma central telefônica. Dessa maneira, quando um GCM estiver com dificuldade para se comunicar com algum estrangeiro, o colega bilíngue poderá assumir a conversa.
O investimento em intérpretes não servirá apenas para atender o número cada vez maior de turistas de São Paulo. Os GCMs também utilizarão as línguas estrangeiras para fiscalizar a pirataria em pontos comerciais na região central da cidade.
Passado. O secretário Ortega diz que desconhecia a divisão de intérpretes da antiga Guarda. A corporação desapareceu em 1970, quando foi anexada à Força Pública, posterior Polícia Militar.
Até então, era possível ver os guardas que falavam um ou mais idiomas estrangeiros devidamente identificados, com uniformes imponentes. "Havia alguns que tinham mais de uma bandeirinha na roupa", lembra o presidente da Associação dos Oficiais Militares do Estado de São Paulo, o coronel da reserva da PM Jorge Gonçalves, de 82 anos.
Quando ele ingressou na Guarda, em 1952, a divisão de intérpretes já atuava na cidade, em recepções internacionais e áreas com grande número de estrangeiros. Nessa época, com a onda de imigrantes que fugiram de seus países após a 2.ª Guerra Mundial, era muito comum ouvir gente falando japonês, italiano e espanhol pelas ruas. "Às vezes, os guardas eram pessoas vindas da Europa."

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