segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

EUA Veem Brasil Ingênuo e Hesitante na ONU



Mídia : O Globo
Data : 13/02/2011
EUA veem Brasil ingênuo e hesitante na ONU
RIO – A julgar pelo conteúdo de uma série de documentos confidenciais do governo dos Estados Unidos, o Brasil não vai contar com o apoio – e o voto – dos americanos para realizar um sonho que persegue com determinação: conseguir um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas. As autoridades americanas consideram o Brasil “cauteloso regionalmente, e hesitante globalmente”.
“Se a rápida emergência do Brasil no cenário global é inquestionável, também é verdade que ele ainda é muito emergente”, diz um dos telegramas. Outro reforça: “O Brasil já falhou amplamente em assumir um papel de liderança internacional que o tornaria um forte candidato para tal posição.
O seu último período (como membro temporário) no Conselho de Segurança da ONU, que terminou em janeiro de 2006, foi caraterizado pela cautela e equívocos em vez de visão e liderança”.
Um pacote de 37 telegramas produzidos pela embaixada dos EUA em Brasília, entre abril de 2004 e janeiro de 2010 – disponibilizados ao GLOBO pelo WikiLeaks – mostra essa missão diplomática sugerindo ao Departamento de Estado e à Casa Branca que o Brasil não está preparado para assumir aquela responsabilidade.
Os despachos listam uma série de pontos negativos. Afirmam, por exemplo, que o governo brasileiro não tem a menor idéia do que acontece, de fato, no Oriente Médio. Suas posições ali são tidas como “ingênuas”.
Algo que influi na avaliação americana é o estilo brasileiro de preferir o diálogo ao confronto. “O Brasil frequentemente permanece reticente em tomar posições firmes em assuntos chaves globais, e geralmente procura maneiras de evitá-los.
Com muita frequência o governo brasileiro evita posições de liderança que poderiam exigir que escolhesse lados abertamente”, diz outro documento, acrescentando que quando o Brasil está em posição de evidência demonstra desconforto.
O fato de o país geralmente se abster, nas votações da ONU, sobre abusos aos direitos humanos no Irã, Coréia do Norte e Sudão também é apontado como atitude que não o recomenda para o Conselho de Segurança.
Os EUA ironizam o Brasil ao defini-lo como o país que acha que “pode falar com todo mundo”, devido ao estilo do Itamaraty de procurar manter-se neutro e buscar saídas via negociação.
“Esse gosto pelo diálogo, junto com o respeito pela soberania e a intervenção em assuntos internos (de outros países)”, diz um documento, “fazem com que se torne mais difícil ao país permanecer fiel a esses princípios, e fica mais difícil esconder as suas inconsistências, à medida em que o Brasil participa num crescente número de arenas internacionais”.
Um dos telegramas diz que o fato de o governo Lula ser, de muitas formas, pragmático mas “cultivar uma forte ideologia esquerdista em política externa” mostram que o país não é confiável. “Isso, junto à histórica reticência do Itamaraty em adotar posições controvertidas, e a quase obsessiva preocupação com a imparcialidade, frequentemente leva o Brasil a adotar posições em situações chaves que consideramos desapontadoras”.
Os documentos registram um claro ressentimento dos EUA em relação ao Brasil. “Grande parte da elite da política externa brasileira permanece cautelosa e desconfiada em relação aos EUA”, diz um deles.
Embora ambos governos declarem que existe uma parceria estratégica entre eles, os americanos desmentem isso nos bastidores: “O engajamento (do Brasil) com os EUA tem sido pragmático, em vez de estratégico”.
E se queixam: “Ao procurar por parceiros estratégicos o Brasil está mostrando clara preferência por outras forças emergentes ‘independentes’, como África do Sul, Turquia, Ucrânia, Irã, China, Índia; e uma potência mundial independente: a França”.
Submarino nuclear é chamado de baleia branca
O governo americano acha que a insistência do Brasil em produzir um submarino nuclear tem menos a ver com a proteção das plataformas de petróleo pré-sal, como argumentou oficialmente o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e mais com o fato de que os cinco países que hoje têm assento permanente no Conselho de Segurança da ONU possuem tal equipamento. Ao mencionar o assunto, os americanos caçoam dessa pretensão.
“Essa baleia branca do Brasil pode, no final das contas, encalhar nos recifes de desafios técnicos e excesso de custos”, diz um telegrama. E completa: “Na verdade, um submarino nuclear não melhoraria a segurança do Brasil, mas serviria como um duvidoso impulso para o machismo nacional”.
Nosso Comentário:
O Lula pode ter sido um desastre em política externa, pois nada entendia disso e ia atrás do que pensavam Celso Amorim e pior: Marco Aurélio Garcia (MAG), aquele radical do “top, top” no Jornal Nacional.
A política externa dessa gente enfatizava mesmo seu esquerdismo pesado e apoio a gente retrógrada e ditatorial como Chávez e demais amigos revolucionários bolivarianos, além de promover Cuba e Irã. Só faltou a outra ditadura da Coreia do Norte, talvez por não ter havido tempo.
Já a presidente Dilma Rousseff está parecendo ser mais equilibrada, embora mantenha por perto como assessor o indefectível MAG, que já é um aspecto negativo em termos de mais bobagens, esquerdismos cegos e apoio a ditadores sanguinários.
Por outro lado, a não hesitante Dilma vai reaproximar o Brasil dos EUA sim, mas as desconfianças mútuas continuarão existindo por um bom tempo. Qualuqer aliança é bem-vinda, mas que jamais seja estratégica.
Talvez uma aliança mais verdadeira venha a ser muito melhor construída com as mútuas desconfianças no fundo do que com uma unilateral confiança cega, que cheiraria a “obediência subserviente”. Tal confiança cega é que seria um absurdo posicionamente de absoluta ingenuidade.
A raivinha dos americanos é que o Brasil hoje não segue suas ordens para tomar certos posicionamentos e até entrar em campanhas militares ridículas como as do Iraque e Afeganistão, que atraíram dezenas de hienas ávidas por simples pedaços das enormes riquezas locais, que vão do petróleo aos minérios.
Se assumir um papel de liderança internacional representar seguir fielmente os EUA, será melhor esquecer de vez esse assento permanente no Conselho Permanente da ONU.
Muito melhor será o país procurar exercer uma liderança internacional independente, sem falar por qualquer aliado de ocasião, que poderá traí-lo pouco mais à frente (vide o caso Sarkozy e Lula) e jogar pelo chão tantos esforços diplomáticos preciosos.
Um exemplo do que não fazer teria sido seguir os EUA no presente caso do Egito. Ficou claro que houve um golpe de estado dos militares com apoio dos EUA antes que a situação descambasse em guerra civil.
Obama fez os militares e a classe dominante egípcia se livrarem do presidente Mubaraki, mas podem todos ter dado um fatal tiro no pé, em que a maior vítima poderá ser primeiro Israel e depois todas as oligarquias medievais da região.
No fim, perderão mais os EUA com sua fome insaciável de veículos beberrões, como as caminhonetes e os SUVs. E como ficaria o Brasil com o futuro Oriente Médio antiamericano?
O Brasil precisa aprender a se posicionar mais claramente sim, e sem hesitações, mas jamais como um seguidor cego das aventuras intervencionistas alheias e sempre apoiando países verdadeiramente engajados com a democracia.
Ressalto que este não é o caso da Venezuela e do Irã atuais e muito menos da China, cada um deles com seus casos e seus problemas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário